quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ser ou não ser bailarina, eis a questão

Esse post foge um pouco do padrão de textos desse blog. Não é uma dica, nem uma curiosidade, nem nada do gênero. É um desabafo meu como bailarina, e acredito que algumas de vocês irão se identificar (e outras, provavelmente, irão discordar).

Nos últimos dias (ou semanas ou meses) comecei a notar que eu simplesmente... cansei de ballet. Mas... e aí? Não que eu eu não ame, eu amo, mas eu cansei. Não vejo mais tanta graça em fazer coque, nem tanta beleza em meia calça, nem poesia na dor. Não acho mais as dificuldades estimulantes, e se tem uma coisa faltando é estímulo. O problema é largar tudo, é nunca mais calçar uma sapatilha de ponta e amarrar a fita de cetim, nunca mais vestir uma meia calça e se sentir meio boneca, nunca mais andar na rua de coque e ser olhada meio torto, nunca mais adorar encontrar coisas de ballet pra vender, nunca mais ir experimentar a roupa, nunca mais vestir um tutu maravilhoso e se sentir princesa, nunca mais dizer "Eu sou bailarina". Como largar aquilo pelo que eu mais sou conhecida? Não ser mais a bailarina da turma, nem a bailarina da família, nem a bailarina de si mesma. E o que fazer com o meu quarto lotado de coisas de ballet? O problema de largar o ballet não é largar o ballet. É largar o ser bailarina. Porque, infelizmente, não dá pra ser bailarina sem estar todos os dias se matando nas aulas, se acabando em ensaios intermináveis, estragando o cabelo em coques, passando por mil crises e estando sempre com dor. Infelizmente não dá pra simplesmente calçar a sapatilha de ponta, usar um tutu bandeja quando tiver vontade, e dizer que é bailarina quando bem entender. Infelizmente eu não nasci pra ballet. Mas tenho certeza que nasci pra querer ser bailarina. E disso, não sei se felizmente ou infelizmente, eu não consigo cansar.